"Li as reflexões do amigo Gabriel Gomes após assistir esse experimento e cliquei. No mesmo momento me veio à mente a lembrança de um dos meus filmes preferidos na infância: A História Sem Fim 2: sequência de um outro filme que, na época, eu nunca havia visto, mas que era reexibido com frequência na TV aberta e que lembrei de novo por causa da Vanessa Mathias. Nele, o personagem principal – Bastian – inicia sua história não conseguindo encarar o pulo em uma piscina de um clube e, ao fim de suas aventuras por um mundo fantástico, o pulo se reapresenta na forma muito mais desafiadora de uma cascata, sendo a única forma de alcançar o retorno para casa como destino que deseja. Agora, transformado por sua jornada, ele pula.
A ansiedade do pulo. Curioso como o nervosismo me invadiu muito antes da primeira cena de plano aberto, onde é possível ter alguma ideia real da altura. Alumbramentos são aqueles momentos em que você dá um passo em qualquer direção e o mundo inteiro parece mudar de lugar, como me ensinou a querida Cris Lisbôa Veio então o primeiro alumbramento: um rapaz comenta sobre como os joelhos começam a tremer mesmo antes do salto, como sinal de que a mente já decidiu que o fará.
Talvez por um papo que eu tive com o Yago Cury sobre estar mais atento a esses aprendizados sobre o espírito do nosso tempo que a vida nos traz, vieram então outros alumbramentos: como o momento em que, sem companhia, uma senhora já na escada então conversa consigo mesma com a intenção de ser a própria voz que a convencerá a não desistir. Ou uma garota que desde o primeiro segundo, mesmo com muito medo, não recua. Congela, sim, mas não recua. A ela, desistir não faz parte das opções. Ou o momento em que um homem usa o alerta de que essa é sua última chance não como incentivo, mas sim como aceitação de que é melhor desistir logo pois o seu tempo já acabou. Ou ainda o jovem que explica ao amigo que não consegue nem ir nem voltar pois o cérebro decidiu algo em oposto ao coração. Cada pessoa, um universo.
A piscina, a altura, a rampa sobre a torre, os incentivos externos ou internos, o retorno pela escada... metáforas para tantos momentos da vida, não é mesmo? Assim como Bastian em A História Sem Fim 2, todos os saltos menores foram só o prenuncio do salto maior na jornada à frente. Em muitos áudios, hoje pela manhã a conversa com a Victoria Haidamus era sobre como, indissociavelmente, tudo tem sua hora e seu lugar. Seu espaço e seu tempo.
O video me fez chorar. Por tantos saltos que achei que seriam impossíveis e fui mesmo assim. Por tantos outros que a escada trouxe sensação de segurança, mas me afastou de saltos para experiências que nenhum degrau subido ou descido jamais proporcionará.
Quando os incentivos externos não chegam, é o que eu mesmo me digo dia após dia. Alex diz que meu principal meio de diálogo com o mundo é o textão. Traduzir um sentimento que, se pudesse empaticamente ser compartilhado, teria muito maior capacidade de síntese mas, na impossibilidade, tento capturá-lo e compartilhá-lo por meio das (muitas) palavras. Talvez fizesse mais sentido se fossem uma conversa em um bar mas, hoje acredito, existem diálogos que precisam acontecer por meio de palavras escritas. E escrevi um monte aqui.
Tudo isso para dizer a você, que também se identificou e leu até aqui, que se o seu momento não for de pular, é uma decisão sua. Mas, se me permite o incentivo e o conselho:
pule."